{"id":236,"date":"2022-07-02T17:29:33","date_gmt":"2022-07-02T17:29:33","guid":{"rendered":"https:\/\/travessiacidadania.com.br\/?p=236"},"modified":"2024-03-28T11:14:35","modified_gmt":"2024-03-28T11:14:35","slug":"judeus-sefarditas","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/travessiacidadania.com.br\/judeus-sefarditas\/","title":{"rendered":"A saga dos Judeus Sefarditas de Portugal para Minas Gerais e o caminho reverso feito por seus descendentes"},"content":{"rendered":"\n

Ap\u00f3s cinco anos de pesquisas, em 2021, descobrimos que o Marden, meu marido, era descendente de judeus sefarditas e que poderia requerer a cidadania portuguesa. Foi ent\u00e3o que decidimos nos mudar para Portugal e desembarcamos em terras lusitanas em mar\u00e7o deste ano.<\/p>\n\n\n\n

A melhor parte de estarmos aqui \u00e9 poder conhecer os lugares relacionados a comunidade judaica e resgatar a hist\u00f3ria da fam\u00edlia. Os judeus sefarditas viviam na Pen\u00ednsula Ib\u00e9rica (Portugal e Espanha) e foram expulsos a partir de 1492, quando come\u00e7ou a Inquisi\u00e7\u00e3o Espanhola.<\/p>\n\n\n\n

Muitos vieram para Portugal, pois tinham a prote\u00e7\u00e3o do Rei Dom Manuel I, afinal os judeus sempre ocuparam cargos de destaque na corte, pois tinham muitos conhecimentos cient\u00edficos, econ\u00f4micos e culturais. Mas em 1496, para poder se casar com a princesa espanhola, D. Isabel, e ter o dom\u00ednio da Pen\u00ednsula Ib\u00e9rica, o rei decidiu expulsar os judeus (e os mouros\/mu\u00e7ulmanos) que n\u00e3o se convertessem ao catolicismo.<\/p>\n\n\n\n

Em 1506, no Largo de S\u00e3o Domingos, aconteceu o massacre de Lisboa, no qual durante tr\u00eas dias, mais de quatro mil judeus foram mortos pelos cat\u00f3licos. Diante disso, a Coroa permitiu ent\u00e3o a emigra\u00e7\u00e3o dos crist\u00e3os-novos ou cripto-judeus, como eram chamados. Mas esta era uma quest\u00e3o delicada, pois se eles escolhiam deixar Portugal se auto declaravam judeus e a fam\u00edlia que aqui ficava, poderia ser perseguida.<\/p>\n\n\n\n

Em 1536, no reinado de Dom Jo\u00e3o III, a inquisi\u00e7\u00e3o foi, formalmente, estabelecida. Os judeus que n\u00e3o se convertiam, eram queimados na fogueira pelo Tribunal do Santo Of\u00edcio, institu\u00eddo pela igreja cat\u00f3lica. O \u00faltimo auto-de-f\u00e9 aconteceu em 1765, mas a inquisi\u00e7\u00e3o acabou mesmo s\u00f3 em 1821, durante a revolu\u00e7\u00e3o constitucionalista.<\/p>\n\n\n\n

De 1496 a 1821, mais de 40 mil judeus foram acusados pela Inquisi\u00e7\u00e3o Portuguesa. E muitos deles foram for\u00e7ados ao ex\u00edlio, emigrando para diversos pa\u00edses, como por exemplo, o Brasil. Mesmo os judeus que eram for\u00e7ados a se converterem, acabavam deixando o pa\u00eds, em busca de uma vida melhor.<\/p>\n\n\n\n

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Memorial aos Judeus V\u00edtimas do Massacre de Lisboa, ocorrido em 1506, no Largo de S\u00e3o Domingos<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

Judeus Sefarditas no Brasil<\/strong><\/strong><\/h2>\n\n\n\n

No Brasil, muitos chegaram em Pernambuco, tanto \u00e9 que em Recife est\u00e1 a primeira Sinagoga das Am\u00e9ricas. Dali alguns sa\u00edram em dire\u00e7\u00e3o a Nova Iorque (EUA) que tamb\u00e9m tem uma grande comunidade judaica, e outros se espalharam por terras brasileiras.<\/p>\n\n\n\n

Em Ouro Preto, Minas Gerais, a comunidade judaica formou uma falsa irmandade para poder professar sua f\u00e9. Eles se reuniam em uma casa que fica ao lado da Igreja de Nossa Senhora das Merc\u00eas e Perd\u00f5es, mas depois de alguns anos foram descobertos pelo Bispo de Mariana e proibidos. O casar\u00e3o, datado de 1772, \u00e9 atualmente a Rep\u00fablica Sinagoga, e abriga estudantes da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP).<\/p>\n\n\n\n

Em Belo Horizonte, capital do Estado, tem o Museu da Inquisi\u00e7\u00e3o, fundado em 2012 e, que conta a hist\u00f3ria de muitas fam\u00edlias que chegaram ao Brasil, os costumes e as tradi\u00e7\u00f5es do juda\u00edsmo. Um espa\u00e7o muito interessante e pouco conhecido pelos mineiros. A entrada custa R$ 12.<\/p>\n\n\n\n

Em 2015, como uma forma de compensa\u00e7\u00e3o para os familiares dos judeus expulsos na inquisi\u00e7\u00e3o, o governo de Portugal criou uma lei que concede a cidadania portuguesa para os descendentes dos judeus sefarditas<\/a><\/strong>. E \u00e9 a\u00ed que entra o trabalho da Comunidade Israelita de Lisboa.<\/p>\n\n\n\n

Comunidade Israelita de Lisboa<\/strong><\/strong><\/h2>\n\n\n\n

Criada no s\u00e9culo XIX por fam\u00edlias sefarditas que regressaram do Norte da \u00c1frica e de Gibaltrar, a Comunidade Israelita de Lisboa (CIL) mantem as tradi\u00e7\u00f5es judaicas em Portugal e \u00e9 respons\u00e1vel por certificar os descendentes dos judeus que foram expulsos durante a inquisi\u00e7\u00e3o.<\/p>\n\n\n\n

Eles tem uma equipe composta por historiadores e genealogistas, que analisam minuciosamente os relat\u00f3rios enviados para concederem ou n\u00e3o o certificado de descend\u00eancia. Com o certificado em m\u00e3os, o requerente deve dar a entrada no processo de cidadania portuguesa na Conservat\u00f3ria de Lisboa. Depois de sete meses de an\u00e1lise, o certificado do Marden foi emitido e ficamos muito felizes por termos descoberto a origem da fam\u00edlia dele e por ele ter o direito \u00e0 cidadania portuguesa.<\/p>\n\n\n\n

Quem tiver interesse em saber mais sobre o processo de cidadania portuguesa para descendentes de judeus sefarditas, pode entrar em contato pelo whatsapp 31 99325-9889, pois j\u00e1 estamos atendendo v\u00e1rias fam\u00edlias.<\/p>\n\n\n\n

Sinagoga Shaare Tikvah <\/strong><\/strong><\/h2>\n\n\n\n

Um dos locais mais representativos para a Comunidade Israelita de Lisboa \u00e9 a Sinagoga Shaare Tikvah (Portas da Esperan\u00e7a), onde eles fazem os servi\u00e7os religiosos. Durante as celebra\u00e7\u00f5es, s\u00f3 quem faz parte da comunidade ou \u00e9 convidado por um membro, pode entrar. Mas as ter\u00e7as e quintas acontecem visitas guiadas, abertas ao p\u00fablico, e claro, n\u00e3o poder\u00edamos deixar de ir.<\/p>\n\n\n\n

A fachada da Sinagoga n\u00e3o fica diretamente para a rua, pois em 1904, quando ela foi constru\u00edda n\u00e3o foi permitido, somente templos cat\u00f3licos podiam se posicionar assim. Mas o grande port\u00e3o branco, com letras hebraicas em dourado, nos mostrava que t\u00ednhamos chegado ao lugar certo.<\/p>\n\n\n\n

Quando passamos pelo port\u00e3o, demos de cara com a imponente fachada da sinagoga, orientada para Jerusal\u00e9m, e com um florido p\u00e9 de rom\u00e3, que \u00e9 considerada pelos judeus a fruta sagrada e simboliza a prosperidade. Logo na entrada est\u00e1 tamb\u00e9m o Memorial de 100 anos da Sinagoga, com l\u00e1pides de importantes judeus, que lutaram pela manuten\u00e7\u00e3o da comunidade no pa\u00eds.<\/p>\n\n\n\n

Para entrar, o Marden teve que colocar o quip\u00e1 (chap\u00e9u t\u00edpico de judeu), o que nos fez sentir parte integrante da comunidade. A guia nos conduziu pelos corredores que levam a arca sagrada e nos sentamos para ouvir a hist\u00f3ria que contei a\u00ed em cima.<\/p>\n\n\n\n

Foi a primeira vez que entramos em uma sinagoga e ficamos encantados. Felpudos tapetes azuis forram o ch\u00e3o e enormes colunas de pedra sobem at\u00e9 as galerias. Os suntuosos bancos de madeira marrom escuro s\u00e3o posicionados de tr\u00eas maneiras diferentes, todos virados para o p\u00falpito, e uma plaquinha de metal, em cada um deles, revela o nome de quem sempre se senta ali.<\/p>\n\n\n\n

S\u00e3o tr\u00eas andares, e durante as celebra\u00e7\u00f5es, na parte debaixo ficam os homens e e em cima as mulheres, numa esp\u00e9cie de camarote. Uma curiosidade \u00e9 que existe um lugar espec\u00edfico para quem est\u00e1 de luto se sentar, no fundo esquerdo da sinagoga.<\/p>\n\n\n\n

Se voc\u00ea tamb\u00e9m quer visitar a Sinagoga, basta enviar um email para visits@cilisboa.org. \u00c9 cobrada uma taxa de 10 euros por pessoa e as visitas acontecem as ter\u00e7as e quintas, \u00e0s 9 horas.<\/p>\n\n\n\n